23 abril 2012

Ciúme da poesia

Perdido na palhoça
Som de pescoço duro
Dorço retorcido, descomunal
Largando a cirene do cio e fumaça de folha de uva
Ela não me permite conversar com meu amor
Ou mesmo deitar ao seu lado
Ela me ordena acordado, subjulgado, escravo, de pé
A poesia tem ciúme
Os deuses têm ciúmes
E me quer agarrado
Espremendo o rosto tentando ouví-la
Exclusivo, implorando que me abra sua porta
Malvada, severa
A poesia me desenterra de casa
E me obriga seus caprichos
Operário de suas roupas
Que lhe desenho um vestido difícil
Sem aviso, me escolhe seu ópio
Me consome inebriado
Tonto de ritmo
Fudido de linguagem
Eu tenho uma vida, filha da puta
Trabalho pra caralho
Ela gargalha e exige a trepada.
Eu sou seu muso de hoje, obrigado.

Pedro Rocha




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